sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Batismo de Sangue - Um novo olhar


                

       Pouca importância é dada ao titulo do filme ‘batismo de sangue’.  O que muitos não veem, no entanto, é o caráter metafórico profundo que ele contem: Batismo é um sacramento cristão que tem como objetivo a purificação do pecado original, portanto o titulo traz a ideia de que a tortura política (“sangue”) seria a forma na qual os militares convenceriam (“batismo”) todos aqueles que eram subversivos à ordem vigente.  

         O filme conta a história dos freis dominicanos que no decorrer da década de 1960 começaram a questionar a ditadura militar apoiando grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional,  organização política, comandada por Carlos Marighella, composta por setores de diversas correntes  ideológicas (congregando democratas, tenentes, operários e intelectuais  de esquerda), criada oficialmente em março de 1935 com o objetivo de lutar contra a influência fascista no Brasil.

      A Igreja sempre representou um grande apoio ao Regime Militar, mas bem se sabe que essa instituição é extremamente hierarquizada. Assim sendo, o baixo clero, mais ligado às questões sociais e desvinculados dos princípios da Igreja quanto ao Regime, não se  negaram a participar da militância contra o sistema.  

        Acompanhamos, então, os movimentos organizados pela ALN que, em grande parte são delatados, ou acabam não dando certo... O filme nos mostra de forma intimista a rotina dos clérigos e suas tradições, bem como seus princípios justos e solidários. A obra representa um bom quadro da situação desesperadora na qual o país se encontrava no período, a alienação da população, que dava mais importância para futebol do que para fatos políticos, como o assassinato de Marighella, entre outras características. 

         Um dos pontos altos do filme é sem dúvida a fotografia e a reconstituição de época, até porque, não coincidentemente, o prêmio que ele levou no Festival de Brasília foi o de melhor fotografia. O filme, com ajuda do figurino e das locações, ambientam muito bem o espectador dentro do contexto e fazem com que toda a trajetória torne-se mais legítima. Outro ótimo recurso usado foi o simbolismo nas cenas, na qual não eram usadas palavras explícitas para transmitir uma mensagem. Como exemplo podemos citar a saída do Frei Tito e outros militantes políticos da prisão em direção ao seu exílio, no qual todos aqueles que ficaram cantaram o hino nacional, mostrando seu apoio àqueles que estavam indo e relembrando que todos estavam ali para o bem da pátria. Outra cena muito forte é a tentativa de suicídio do Frei Tito após sua tortura, pois ver um religioso tentar cometer suicídio, algo que é condenado pela Igreja, nos faz ver o quão desesperador era passar por aquela experiência.  

     A abordagem do filme é extremamente psicológica; os personagens são trabalhados de forma profunda, e somos contagiados com suas aflições, sofrimentos e problemas. O Frei Tito, por exemplo, que é  barbaramente torturado, adquire sequelas psicológicas que o levarão ao suicídio.

       Porém, mesmo que o filme seja carregado de fatos históricos importantes e de cenas que contém um simbolismo muito forte, há uma crítica que pode ser feita quanto à exploração do tema: com certeza as cenas de tortura são essenciais dentro do contexto que o filme mostra, e que através delas nós podemos ter noção do que realmente acontecia com os presos políticos e o que eles passavam para defender sua pátria e seus direitos, entretanto essas torturas, dentro da película, foram usadas mais do que o necessário. Por  estender muito essas cenas, não foi dada a devida ênfase do porquê que aqueles freis estavam ali exatamente. No fim de tudo, não fica muito claro como os freis atuavam para ajudar a derrubar esse regime, e talvez um pouco mais de tempo dedicado a essa explicação fizesse com o que o retrato da situação fosse mais completo.

     Mesmo com algumas ressalvas, “Batismo de Sangue” continua sendo um filme forte que expõe essa ferida ainda aberta da ditadura que aconteceu em nosso país e faz, a cada minuto, com que nós pensemos sobre esse momento negro pelo qual aquelas pessoas passaram, até onde o ser humano pode ser cruel o suficiente para torturar um igual em prol de seus interesses e até onde um ser humano pode ser corajoso o suficiente para resistir a dor em busca da liberdade.

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