quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Maluco -CENSURA- Beleza



Ontem, dia 21 de agosto de 2012, completou 23 anos que o Brasil perdeu um de seus maiores compositores e primogênitos do rock nacional. Raul Santos Seixas, baiano, teve como influência musical o blues e o rockabilly de Elvis Presley. Vocês devem estar se perguntando o que isso tem a ver com os assuntos discutidos aqui no Esclaricendo; e eu lhes direi.

Raulzito, assim chamado, afiliou-se com Paulo Coelho, escritor, letrista e filósofo esotérico que possuía idéias e fundamentos ligados ao movimentos de vanguarda e hippie; tal aliança foi fundamental para a criação da Sociedade Alternativa, que foi interpretada de forma errônea pelo governo. A Sociedade era baseada nos escritos do ocultista inglês Aleister Crowley, cuja Lei de Thelema era baseada nos preceitos "Faze o que tu queres há de ser tudo da lei" e "Amor é a lei, amor sob vontade".

Uma vez que a Sociedade Alternativa chegou aos ouvidos da Ditadura, Raul passou a ser perseguido, visto que o governo reprimia qualquer atitude considerada subversiva, que influenciasse as pessoas a se voltarem contra o poder. A censura da época era algo que proibia a liberdade de expressão, musical e cultural, portanto os artistas do período usavam e abusavam de figuras de linguagens, metáforas, entre outros, para tentar driblá-la e conseguir fazer com que sua arte mudasse o pensamento das pessoas. O "maluco beleza", juntamente com Paulo Coelho, em 1974, foi mandado aos Estados Unidos por conta do exílio. Muitos outros compositores foram exilados para Europa e para outros locais, como por exemplo Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil.

Raulzito teve cerca de 18 composições vetadas pela censura, entre elas: Ouro de Tolo, Metrô Linha 743, Aluga-se, Sociedade Alternativa, Cowboy Fora da Lei, Mosca na Sopa e uma das mais famosas: Como Vovó Já Dizia. Abaixo segue a versão original da canção:

Quem não tem colírio, usa óculos escuros (2x)
Quem não tem colírio, usa óculos escuros essa luz tá muito forte tenho medo de cegar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros os meus olhos tão manchados com teus raios de luar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros eu deixei a vela acesa para a bruxa não voltar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros acendi a luz do dia para a noite não chiar

Quem não tem colírio, usa óculos escuros quem não tem papel dá o recado pelo muro
Quem não tem presente se conforma com o futuro

Quem não tem colírio, usa óculos escuros já bebi daquela água quero agora vomitar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros uma vez a gente aceita, duas tem que reclamar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros a serpente está na terra o programa está no ar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros vim de longe de outra terra pra morder teu calcanhar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros essa noite eu tive um sonho, eu queria me matar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros tudo tá na mesma coisa, cada coisa em seu lugar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros com dois galos a galinha não tem tempo de chocar
Quem não tem colírio, usa óculos escuros tanto pé na nossa frente que não sabe como andar

E eis aqui a música com letra censurada:


Por fim, outra composição censurada de Raul, Metrô Linha 743:


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